A MUDANÇA GLOBAL DE HÁBITOS ALIMENTARES E A EXPANSÃO SUSTENTÁVEL DA AGRICULTURA BRASILEIRA share
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A MUDANÇA GLOBAL DE HÁBITOS ALIMENTARES E A EXPANSÃO SUSTENTÁVEL DA AGRICULTURA BRASILEIRA

“Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio”, disse o filósofo grego Hipócrates, considerado o pai da medicina. Esse chamamento voltou à tona em meio às transformações ocasionadas pela maior crise sanitária global dos últimos cem anos. Em alguns países, já existia a tendência de diminuição do consumo de produtos industrializados e o aumento da procura por alimentos naturais. Segundo a agência internacional de pesquisa de mercado Euromonitor, nos últimos cinco anos, o crescimento do setor de alimentos e bebidas saudáveis em todo o mundo foi, em média, de 12,3% ao ano. 

Um estudo recente da USP apontou que essa tendência já é realidade também no Brasil. As primeiras análises do Estudo NutriNet Brasil, que envolveram 10 mil participantes e indicam aumento generalizado na frequência de consumo de frutas, hortaliças e feijão (de 40,2% para 44,6%) durante a pandemia. A busca por uma melhora na alimentação e, consequentemente, das defesas imunológicas do organismo devem acelerar esta mudança. 

Hoje, o Brasil já está entre os líderes de produção e exportação de diversos tipos de alimentos, como frutas, legumes e verduras. A alteração prevista nos hábitos alimentares em escala mundial fará com que o país precise expandir a produção de diversos cultivos, sempre cumprindo as regras ambientais vigentes. A boa notícia é que é possível quase triplicar a produção agrícola do Brasil sem derrubar sequer uma árvore. São 79,1 milhões de hectares de área plantada em todo o território nacional que fazem do Brasil líder mundial em produção e exportação de soja, café e cana-de-açúcar. 

Dados detalhados sobre uso do solo no Brasil
Fontes: EMBRAPA, INPE, IBGE, MAPA, CAR (2020)

Outros 215,2 milhões de hectares estão disponíveis para os mais diversos cultivos, que vão suprir o aumento da demanda global por alimentos saudáveis. São áreas de pastagem, que vinham sendo utilizadas pelo setor de pecuária. Os pecuaristas praticavam uma técnica denominada de “pecuária extensiva”, que demandava grandes áreas para a sua produção em larga escala. Com o avanço das tecnologias e a necessidade cada vez menor de espaço para a criação do gado, áreas enormes estão ficando ociosas.

A tendência da transformação de grandes áreas de pastagem em lavoura tem se consolidado especialmente nas áreas de fronteira agrícola, como os estados do Pará e do Piauí. Outra região de destaque neste sentido é o norte de Goiás, na divisa com o Tocantins. Um dos maiores grupos da pecuária nacional, dono de mais de 200 mil hectares de terra nessa região, é o exemplo mais claro. Em parceria com a Valtra, o grupo toca um projeto para que 50 mil hectares se transformem em lavouras de milho e soja. E a tendência é que isso cresça.

De quebra, o aproveitamento de áreas de pastagem para a agricultura também é uma grande notícia, pois, além de beneficiar a cadeia produtiva do agro, responsável por 21,4% do PIB nacional, ainda proporciona economia na criação do gado, já que alguns cultivos podem servir como ração para os animais, ajudando a reduzir o preço da carne no mercado interno. 

Para o mercado de máquinas agrícolas, essa mudança de paradigma no campo é igualmente animadora. A necessidade de uma gama maior de maquinários para o cultivo de grãos aproxima a indústria de grupos bastante amigáveis à tecnologia e com alta capacidade de investimento. Tratores de média e alta potência, plantadeiras, pulverizadores e colheitadeiras passam a fazer parte do universo dessas regiões, bem como a necessidade de soluções agronômicas que tragam mais rendimento para os agora “agropecuaristas”, com desmatamento zero.

Os principais agentes do agronegócio brasileiro seguem comprometidos com suas responsabilidades ambientais e econômicas. Esta é a regra, enquanto os transgressores da lei são exceção. A agricultura profissional do Brasil é vanguarda, graças às técnicas mais avançadas para o cultivo em clima tropical e as demais soluções pesquisadas e desenvolvidas pela Embrapa, referência mundial no assunto. 

Com a mudança que se avizinha em relação aos hábitos alimentares da sociedade global, a expansão sustentável da agricultura profissional se fará urgente. Passada a crise global do coronavírus, a cadeia produtiva do setor certamente se fortalecerá, mantendo o agronegócio como o principal pilar da economia brasileira e um dos principais atores da retomada do crescimento do país.

*Alexandre Assis é diretor de vendas da Valtra no Brasil